Aproximação ao Apocalipse (2) - AUTORIA DO APOCALIPSE

 Aproximação ao Apocalipse (2)


INTRODUÇÃO II:

AUTORIA DO APOCALIPSE


"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João/... 9 Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus/... 22:8 Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. ( Ap. 1:1,9; 22:8 )



ALTA CRÍTICA


Já terminamos o estudo sobre o Livro das Jornadas, e há bastante tempo tinha tido uma direção do Espírito do Senhor para compartilhar com os irmãos, com os que desejarem participar voluntariamente, uma série sobre o Apocalipse. Em certa ocasião quase iniciamos; porém não era pra ser, mas já havia direção do Senhor para fazê-lo. Lembro-me de uma vez em que fui convidado pelo irmão Holbert e estive dando uma série de introdução ao Apocalipse, e um dos pastores ali, dos irmãos, quando terminei a série, me chamou à parte, convidou-me para jantar, e durante o jantar me disse: _ Irmão Gino, quando você estava tratando esses temas, o Senhor me mostrou que um anjo veio com um cilindro e com uma pluma e tomava nota do que você estava ensinando, e eu entendi que você tem que publicar essas coisas que estava ensinando. Isso ele me disse em particular durante em o jantar; então eu penso que com a ajuda do Senhor, se Ele nos ajudar, possivelmente estamos no momento de considerar esse livro. Eu tinha guardado isso em meu coração, mas alguns irmãos se aproximaram de mim, e inclusive sem saber isso, também me pediram isso; e eu pensei: _ possivelmente seja um sinal de que podemos começar essa série. Rogo suas orações porque nenhum de nós é suficiente, especialmente para uma coisa tão delicada como essa; mas confiamos que o Senhor, se Ele nos colocar na batalha, Ele vai ajudar. Não pretendemos dar a última palavra nem todas as palavras, mas fazer uma contribução particular de um membro do corpo, que vocês completarão também com outros irmãos; então não pensamos dar a última palavra, mas somente aquilo que o Senhor puser no coração.


Vocês poder ver hoje nesta mesinha, que tive que colocar aqui para por uns documentos da igreja primitiva, e aqui estão os escritos daqueles irmãos que tiveram contato direto com os apóstolos, que são chamados por alguns de “pais apostólicos”; também temos aqui a coleção das apologias escritas durante os tempos da perseguição à igreja primitive, escrita pelos apologétas, uma coleção de suas defesas; também temos a obra "Contra as heresias" de Irineu de Lyon, que foi discípulo de Policarpo na igreja de Esmirna, e que por sua vez, Policarpo, conheceu João . Quando João recebeu o Apocalipse teve que entregá-lo aos anjos das sete Igrejas, às sete Igrejas; e precisamente uma cópia foi entregue a Policarpo. 


Irineu era um dos que estava sentado aos pés de Policarpo recebendo o testemunho que Policarpo dava do Senhor Jesus e da comunhão estreita que tinha tido com o apóstolo João. Também tenho aqui os volumes da obra de Eusébio de Cesaréia, a história eclesiástica, onde há muitos dados da igreja primitiva.


antes de entrar propriamente na consideração exegética do livro do Apocalipse, eu queria fazer uma introdução do que se costuma ser chamada de a "Alta Crítica"; ou seja, o que é relative a: quem é o autor do livro, quais são as provas históricas de cada detalhe e que problemas surgiram; questionamentos ao longo da história e como foram tão refutados. De maneira que a igreja deve conhecer estas coisas, porque em qualquer momento os irmãos se deparam com terríveis correntes de incredulidade e de ceticismo que circulam por toda a terra; os irmãos às vezes não se chocam com essas correntes, mas de repente se um dia se chocarem com elas precisarão ter estas coisas claras. Por isso me permitam, antes de entrar diretamente na exegese do livro, fazer uma introdução ao mesmo. Vamos ver quatro versos iniciais no livro de Apocalipse que estão no capítulo 1 e também depois no capítulo 22. Quero lhes chamar a atenção inicialmente, com o propósito de introdução, a 4 versos. 


Apocalipse 1:1-2, diz assim:

"1Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João,

2  o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.".


Essa última frase do verso 2 é interessante: "a tudo o que viu". 


O apóstolo João usava muito essa frase. Vocês recordam na primeira epístola do apóstolo João, onde ele fala em uma linguagem parecida. Convido-lhes a ler comigo, porque é muito bom desde o começo, ver a semelhança na linguagem, a semelhança nas palavras. Diz 1ª João 1 no verso 1:


"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida 2 (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada),

3 o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.".


A AUTORIA DE JOÃO


O objetivo é que gozemos na fé que vem de receber o testemunho de Deus por meio dos apóstolos. O que vimos, atestamos, o que ouvimos. Ali diz: deu testemunho das coisas que viu. É a linguagem típica de João falando do Logos, do Verbo, como aparece tanto no evangelho, como em suas epístolas, como no Apocalipse. Deus determinou que João escrevesse, que contasse essa experiência da revelação de Jesus Cristo, que fora seu servo. Este é João o apóstolo, dos doze apóstolos; João o filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago, e primo do Senhor Jesus; porque Salomé era irmã de Maria. Então no versículo 4 de Apocalipse 1, diz: "João"; não há necessidade de João colocar outros apelidos como assinatura porque era bem conhecido; ele simplesmente diz: João; era um João conhecido pelas Igrejas na Ásia Menor. "João, às sete Igrejas que estão na Ásia". Ou seja, para eles, João inicialmente escreveu este livro, esta profecia; ele teve a experiência, e o Senhor lhe deu a ordem que enviasse esta profecia às sete Igrejas que estão na Ásia. Por isso os testemunhos mais antigos na história da Igreja, sobre o Apocalipse de João, são os que provêm dessa região da Ásia Menor: de Éfeso, de Esmirna, de Sardes, de Hierápolis, que fica ao lado de Laodicéia, e enfim; são os testemunhos mais antigos sobre o Apocalipse; estes começaram a dar-se ali na Ásia Menor.


Naquela época os livros não circulavam como agora; hoje em dia há quantidades de imprensas, há internet, e uma coisa que hoje fica em uma página da Web é conhecida no mundo inteiro; naquele tempo tinha que se escrever cilindro por cilindro com muito trabalho e se circulava a pé, ou a cavalo, ou a camelo e as coisas eram muito lentas e assim os livros foram expandindo-se de uma maneira muito lenta, mas foram se expandindo; e quando a gente estuda os rastros da transmissão do Apocalipse na história, alguém se dá conta de que realmente os testemunhos mais antigos começaram na Ásia Menor e foram estendendo-se justamente na Ásia Menor, que é  um lugar central nos três continentes, e dali começou a estender-se mais para o ocidente; por fim foi chegando para o oriente, bem ao oriente, onde demoraram bastante em aceitar o Apocalipse, porque como lhes vou contar hoje, e lhes vou ler, apresentaram-se algumas questões históricas que impediram que algumas pessoas tivessem acesso ao Apocalipse, e que estivessem abertas a ele. Graças a Deus que a Palavra de Deus prevaleceu sobre todos os problemas, sobre todas as resistências que Satanás lhe pôs; porque Satanás sempre põe muitos obstáculos especialmente ao livro de Gênesis e ao Apocalipse, que são os livros que revelam seu princípio e seu fim.


Então são dois livros tremendamente atacados por Satanás; e então estamos aqui identificando o autor humano; logicamente que é uma revelação divina, mas através de um ser humano, sem anular o ser humano, usando esse ser humano, tal como ele é, usando-o com sua personalidade, usando-o com sua linguagem, com seu estilo, usando-o com sua condição humana; e isto o digo muito a propósito pelo seguinte: porque a gramática grega do Apocalipse é uma gramática sui géneris ( do latin: único em seu gênero); no autor o grego não era sua primeira língua; seu autor falava aramaico porque João falava em aramaico, e ele não somente falava em aramaico, mas também pensava em aramaico e fazia as frases conforme à sintaxe em aramaico, e o aramaico é muito diferente do grego. Há coisas que na gramática e na sintaxe se chamam "os casos"; então, por exemplo, às vezes o pronome, se for plural, tem um plural na conjugação do verbo. 


Por exemplo, em inglês e em espanhol; em inglês não há essa diferença; em inglês os verbos regulares, se você falar o eu, ou o você, ou o nós, ou eles, ou vós, a conjugação é a mesma; em espanhol sim, temos diferença; por isso quando um norte-americano está tratando de falar em espanhol, pois lógicamente que ele às vezes diz: eu estar muito "contento”. O eu, é ele, estar, não concorda estar comigo, porque ele diz: eu estou; mas ele não é espanhol, então ele usa a conjugação que não concorda com o pronome e às vezes, o gênero; ele é homem e diz "contenta" (em espanhol), porque como fulana disse que estava "contenta", então ele também está contente e põe em feminino o que era em masculino. Mas até sendo assim, nós entendemos perfeitamente e Deus nos fala como somos. Se as pessoas forem do povo, então falam em uma linguagem popular e Deus as usa em sua linguagem popular. Por exemplo, o grego de Marcos é um grego koiné muito popular, porque Marcos era uma pessoa popular; então ele conta, inspirado pelo Espírito Santo, conforme a sua personalidade, e Deus o usa como ele é; porque quem disse que só os que têm lido muito podem se comunicar? Ou que a linguagem é só para eles? não; Deus usa a todos os homens falem como falam; se fala chinês, se fala russo ou se fala misturado, o importante é que é uma pessoa limpa usada Por Deus e com sua personalidade; então Marcos escreve com uma gramática popular; Lucas, em contrapartida, era um médico, um grande leitor e um homem muito culto; então ele fala com uma linguagem quase clássica, um koiné clássico; assim também João, quando escreveu Apocalipse, ele estava sozinho; ele o escreveu em uma linguagem de um João que era pescador; ele não era um escritor clássico e além disso, ele não estava escrevendo em aramaico, mas estava escrevendo em grego; estava sozinho e não tinha quem lhe ajudasse.


Se vocês perceberem como o Senhor permite que isso seja assim, quero lhes mostrar algo em Atos 15. Diz em Atos 15 que depois que o sínodo apostólico e presbiterial em Jerusalém chegou a uma conclusão, escreveu-se uma carta; então dizem os versos 22-23:

"Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos,

23 escrevendo, por mão deles: ".


ASSUNTOS DE CULTURA GREGA


Temos aqui a Silas. A palavra Silas é uma contração da palavra Silvano, assim como Chico é uma contração de Francisco, como Zé uma contração de José, como Lucas é uma contração de Lucano, como Epafras é uma contração de Epafrodito; assim Silas é uma contração de Silvano. Este Silvano era um irmão culto; e os apóstolos, que eram pessoas do povo, mas cheias do Espírito Santo, costumavam ditar suas cartas; ainda Paulo as ditava a Tércio; e aqui os apóstolos a ditaram a Silvano. A carta era dos apóstolos, mas Silvano escrevia com boa gramática.


 Vamos, pois, às duas cartas de Pedro. Vocês perceberão que entre a primeira e a segunda carta de Pedro há uma diferença, pois a primeira foi escrita de Pedro por mão de Silvano, e a segunda por Pedro sozinho; é por isso que a gramática grega da primeira epístola de Pedro é muito culta, e a gramática grega da segunda de Pedro é mais popular; e por isso alguns pensaram que o autor não é o mesmo Pedro e querem recusar a segunda, simplesmente porque consideram o grego da primeira mais culto que o da segunda; mas o que foi  que aconteceu à primeira?

Em 1ª Pedro 5:12, diz Pedro: "Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente". Vemos que Silvano era um irmão culto; assim como entre nós há irmãos que têm boa gramática, boa ortografia, então pedimos a esses irmãos que nos façam transcrições; e eles põe tudo em ordem; pontos, aspas; vão corrigindo o texto; nós, às vezes, falando de maneira informal, deixamos uma frase pela metade, e ele termina a frase e faz corretamente; o mesmo aconteceu na igreja primitiva. Silvano era um escriba dos apóstolos; era também um apóstolo com Paulo, era um homem culto, e os irmãos o apreciavam e lhe pediam que escrevesse o que eles diziam; eles eram inspirados pelo Espírito Santo e ele escrevia com uma linguagem culta. Por isso a primeira epístola de Pedro, é de Pedro, mas lhe denota a gramática de Silvano. Já na segunda não estava Silvano, de maneira que denota mais a Pedro quando escreve sozinho. O mesmo acontece com o Apocalipse.


O Apocalipse tem uma gramática que era aramaica expressa através do grego, como se um gringo falasse em castelhano, porque o grego não era a linguagem de João; a linguagem de João era o aramaico; entretanto, não há livros tão sublimes como estes da Bíblia, e este do Apocalipse é onde se termina toda a revelação; e Deus escolheu a um pescador para falar Sua palavra e coroar Sua palavra através de um João em que o grego era apenas sua segunda língua e estava por lá detento sem quem o ajudasse. Entretanto, Deus usou a João como é João, e damos graças a Deus por isso, e isso explica o sui géneris da gramática grega de Apocalipse. Claro que depois vieram uns escribas, quando foram copiando o Apocalipse; por isso surgem variantes, porque lhe adaptaram um pouco: "Eu estar" com "eu estou"; bom, por isso ao comparar uns manuscritos com outros, você nota umas variantes de acomodação dos gêneros, dos números, etc.; mas de todas Essas maneiras nas cópias posteriores e nas traduções não se nota. Nas traduções você não nota as diferenças de estilo de Lucas e de Marcos, de Moisés, de Paulo, porque tudo é do mesmo tradutor; mas na Bíblia original se nota. Deus nunca tirou as características do homem, mas utiliza o homem assim como ele é.


Eu recordo que o irmão Branham era um irmão também de extração popular. Deus o usou muito; tanto o usou o Senhor, que os irmãos queriam que as gravações aparecessem exatas, assim como ele dizia. Por que? Porque os irmãos não queriam que fizessem retoques gramaticais para fazer seu discurso mais bonito, mas que parecesse assim como é em toda sua simplicidade e aspereza; e assim se vocês lessem os primeiros folhetos que publicavam veriam uma linguagem muito fina, mas depois os irmãos disseram: Não, e se nessa linguagem muito fina houver uma traição à idéia? Não, assim com toda a simplicidade nos contas as coisas; e irmãos, o povo não tem direito a falar? Acaso é somente algum homem da Academia de Línguas quem tem direito a se comunicar? Não, Deus não tem esse conceito, Deus se comunica através do ser humano como o ser humano é; o que importa é que lhe entendam. E não estamos falando para rebaixar a categoria de ninguém quando fazemos a diferença entre o popular e o clássico; somente para mostrar o fato, mas não para rebaixar às pessoas, porque Deus não as rebaixa e Deus as usou assim; então as respeitamos e as recebemos como de Deus. Toda a palavra é inspirada por Deus. Era necessário fazer essa colocação à respeito.


De maneira que esse João não necessita outro sobrenome; e isso o digo também muito a propósito por algo que vou ter que dizer depois; porque é que há alguns que quiseram negar a autoria de Apocalipse à João, ou do evangelho, ou das cartas, ou de alguma das cartas. houve muita luta no campo da alta crítica modernista liberal. É preciso fazer estas introduções para poder pôr os parapeitos quando os irmãos se encontarem com essas correntes céticas e antagônicas; por isso me detenho nisto. 


Então fixem-se em Apocalipse 1:4: "João, às sete Igrejas". Era um personagem tão conhecido, que não teve nem sequer que dizer: Filho de Zebedeu, nem de Salomé, nem irmão de Tiago; era o João que tinha sobrevivido em face dos outros apóstolos e que estava aí; era simplesmente João. Logo em 1:9, diz: "Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus". 


Percebe-se que tinha conhecido a Jesus Cristo de perto, conhecia a paciência de Jesus Cristo. Muitas pessoas têm a imagem de um Deus ogro, mas ele conhecia a paciência de Jesus Cristo. "Estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo". Na ilha de Patmos foi onde este João, o apóstolo João, recebeu esta revelação e a escreveu sem a ajuda de Silvano. Não sabemos se nos próximos livros Silvano tenha ajudado em Éfeso, mas aqui em Patmos estava sozinho. No capítulo 22, também aparece o autor deste livro, que é o apóstolo João; 22:8: "Eu João sou o que ouviu e viu estas coisas". É o estilo típico de João: o que vimos e ouvimos, seja que fale com a ajuda de Silvano no evangelho e sem a ajuda dele no Apocalipse, é seu estilo e suas palavras: Eu João sou o que ouviu e viu estas coisas; ou seja que quem escreveu este livro foi o apóstolo João.


No capítulo 1, quando estava começando a revelação, ele já recebeu esta ordem do Senhor. O Senhor lhe disse: "Escreve em um livro o que vês"; essa foi a eleição do Senhor, que fora João, e lhe mandou a escrever. O Senhor não se importava se João falava aramaico e não grego, e tinha que mandar isso às Igrejas que falassem grego, e o fez muito bem. "dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.

". De modo que João o apóstolo na ilha de Patmos recebeu uma revelação de Deus que deu a Jesus Cristo, que a enviou por um anjo ao apóstolo João, e lhe ordenou enviá-la a sete Igrejas específicas da Ásia Menor, que são as destas cidades: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Como lhes disse no começo, o mais lógico era que os primeiros testemunhos do texto, as referências mais antigas ao Apocalipse, e os documentos manuscritos, pergaminhos mais antigos, proviessem daquelas regiões; e justamente foi assim. depois que morreu Domiciano, o imperador, que foi o que condenou João à ilha de Patmos, então por um ano subiu seu sucessor chamado Nerva, que imediatamente libertou João da ilha de Patmos, e ele voltou para Éfeso e lá continuou fazendo a obra do Senhor tendo como centro da obra a cidade de Éfeso; e justamente, é da igreja de Éfeso de onde surge o testemunho mais antigo a respeito da autoria do Apocalipse pelo apóstolo João.


TESTEMUNHO DE JUSTINO MÁRTIR


Na igreja da cidade de Éfeso houve um homem de Deus muito famoso na antigüidade, muito respeitado, que se chamou Justino Mártir.


 Se chamou assim porque ele foi martirizado; e ele era um filósofo e foi martirizado por outro filósofo, amigo de um imperador filósofo. Que paradoxo! Este homem, que era um filósofo, tinha nascido em Samaria, na cidade de Siquém, que hoje se chama Nablus ou Nablusa ou Neápolis, que são as diferentes pronúncias da mesma palavra: Neápolis, Nablusa, Nablus; é o que era a antiga Siquém de Samaria; aí foi onde nasceu Justino, e ele começou a ler filosofia. Ele esteve passando por todas as escolas filosóficas; Deus quis que fosse assim; e ele se foi correndo para o ocidente, e se estabeleceu por fim em Éfeso, e ali conheceu ao Senhor e se fez cristão. Os filósofos naquela época usavam seu manto de filósofo, e ele começou a pregar o evangelho como se fosse um filósofo porque as pessoas iam onde ele estava para ouvir filosofia, e ele aproveitava isso para evangelizá-los. Logo foi para Roma, e em uma casa perto de uns banheiros públicos, ele estabeleceu seu lugar de pregação, e os que quisessem poderiam ouvi-lo lá, até que o filósofo Junho Rústico, amigo do imperador Marco Aurélio, mandou chamar para obrigar a ele e a seus companheiros, que eram como sete irmãos, entre eles uma irmã chamada Caridade, e os obrigaram à idolatria depois de lhes fazer umas perguntas; eles se confessaram claramente cristãos; tinham que fazer sacrifícios aos deuses; como eles não os fizeram, portanto esse filósofo os mandou ao açoite  e a decapitação, e eles foram fiéis com grande alegria; deram suas vidas pelo Senhor. Por isso o chamam de "Justino mártir". Ele viveu na primeira parte do século II, e escreveu pelos arredores do ano 135 a mais tardar, quando havia a perseguição contra os cristãos. Justino é chamado "O príncipe dos apologétas", porque nessa época de perseguição dos imperadores romanos e do império romano aos cristãos, então alguns irmãos escreveram apologias ou defesas do cristianismo e as enviaram ao imperador Marco Aurélio, ou a Antonino Pio, ou aos outros imperadores. Essas apologias se recolheram neste volume que tenho aqui, onde está a coleção dessas defesas dos cristãos primitivos; e Justino escreveu umas apologias e escreveu também um diálogo com um judeu famoso chamado Trifon, com o qual ele teve um diálogo, que depois Justino redigiu. Entre os judeus, parece ser chamado o Rabino Tarfon; Trifon se diz no grego. Justino, que vivia na cidade de Éfeso, escreveu esse diálogo com Trifon na cidade de Éfeso, na primeira parte do século II, a mais tardar para o ano 135. Vou ler aqui uma pequena parte do que ele escreveu, onde aparece o testemunho mais antigo, além do próprio Apocalipse, onde se diz que este Livro de Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João.


Vou ler aqui no Diálogo com Trifon, depois que ele citou aqui umas palavras do profeta Isaías; ele leu aquela passagem de Isaías, onde fala como vai ser o reino vindouro, aquela parte onde diz que o cordeiro comerá palha com o leão, etc; então depois de citar essas palavras de Isaías a Trifon, diz Justino:


"O que nestas palavras, pois, diz-se, disse eu, "porque segundo os dias das árvores, serão os dias de meu povo, e meus escolhidos desfrutarão das obras de suas mãos", entendemos que significam misteriosamente os mil anos, porque como foi dito a Adão que no dia em que comesse da árvore da ciência do bem e do mal, morreria; sabemos que não cumpriu os mil anos; entendemos que faz também a nosso propósito aquilo de que um dia para o Senhor é como mil anos; além disso, houve entre nós um varão por nome João, um dos apóstolos de Cristo, o qual em revelação que foi feita, profetizou que os que tiverem acreditado em nosso Cristo, passarão mil anos em Jerusalém e que depois disto viria a ressurreição universal e para dizê-lo brevemente, a eterna ressurreição e julgamento de todos unanimemente; o mesmo veio a dizer também nosso Senhor: Não se casarão, nem serão dados em matrimônio, mas serão semelhantes aos anjos, filhos que são do Deus da ressurreição; porque entre nós se dão até o presente carismas proféticos, de onde vós mesmos devem entender que os que antigamente existiam em seu povo passaram a nós".


Lemos aqui um trecho textual de Justino Mártir, onde falando do milênio, nesse contexto ele faz uma referência antiquíssima, apenas nos começos do século II, quando ele vivia em Éfeso. Houve entre nós um varão chamado João, dos apóstolos de Cristo, que recebeu uma revelação; e faz uma referência ao Apocalipse. Vemos aqui, pois, a referência mais antiga ao Apocalipse conhecida até agora, feita por um líder da igreja primitiva no século II.


TESTEMUNHO DE PAPÍAS


Tenho aqui também outras referências a fazer: um dos discípulos diretos do apóstolo João foi Papías de Hierápolis. Hierápolis era uma cidade que ficava perto de Laodicéia e de Colosso. Essas três cidades, se vocês as olharem no mapa da Ásia Menor, estão pertinho uma da outra; quase como dizer: Suba, Bosa, o antigo Tiguaque, que é São Cristóbal; ou seja que é uma região mais próxima que este Distrito, mas ficavam muito perto uma da outra; então para ver essa proximidade, vamos ali à epístola aos Colossenses; ali o apóstolo Paulo faz referência a estas três Igrejas. 


Colossenses 2:1: "Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face"; ou seja, os que estavam ali perto de Laodicéia; e em 4:13 diz: "Porque dele dou testemunho (de Epafras ou Epafrodito, que é a contração de Epafras) de que tem grande solicitude por vós (os do Colossos), e pelos que estão em Laodicéia, e os que estão em Hierápolis". Essas três localidades: Colossos, Laodicéia e Hierápolis, estavam perto, e eles se visitavam, de tal maneira que Paulo mais adiante lhes diz no verso 16: "Quando esta carta (a dos Colossenses) for lida entre vós, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses"; ou seja que a carta que enviei aos Laodicenses, vocês a devem ler também, e a que enviei a vocês, Colossenses, façam-na que seja lida por eles; porque estavam muito perto; não havia carro, não havia internet, não havia avião, mas podiam ir a pé, ou em burro; então podiam fazer isso. Percebem que Hierápolis ficava perto? Aí em Hierápolis viveu o diácono e evangelista Felipe e também as filhas de Felipe; posto que ele tinha quatro filhas profetizas. Justamente Papías, que era um discípulo de João, tinha conhecido a Felipe e tinha ouvido vários dos testemunhos da tradição antiga das próprias filhas de Felipe, e Papías disse algumas coisas. Eu queria ler algo do que diz Papías para que os irmãos tenham essas notícias da igreja primitiva. Justamente, uma má interpretação que se fez de umas palavras de Papías, dela se agarraram primeiro uns hereges e logo uns céticos; não é exatamente o mesmo, mas estão trabalhados pelo diabo para tratar de dizer que havia outro João e que não foi João o apóstolo o que escreveu isto.


Vou ler algumas das palavras de Papías. Tenho aqui os fragmentos de Papías. Papías escreveu uma obra em cinco cilindros que se chamou "Exegese dos Logiones do Senhor", que era uma explicação dos ditos, das sentenças do Senhor Jesus. Depois os livros foram chamados Os Exotéricos; não os esotéricos com “S”, a não ser com x; são os mesmos cinco livros de Papías; esses livros sobreviveram até certo tempo; logo se perderam, mas alguns fragmentos de Papías sobreviveram. Irineu o cita, Eusébio o cita, Apolinário de Hierápolis, que foi sucessor de Papías, cita-o, André de Cesaréia cita a eles. Vocês sabem que em Cesaréia houve uma grande biblioteca que Orígenes formou. Orígenes, quando foi a Cesaréia formou uma grande biblioteca que logo, quando ele morreu, Pânfilo a assumiu, e nessa biblioteca ele procurou recolher todo o possível sobre os cristãos anteriores, e graças à biblioteca de Orígenes completada por Pânfilo, Eusébio de Cesaréia pôde escrever a história eclesiástica que temos aqui na mesinha, onde nos dá as notícias da igreja primitiva; graças a essa biblioteca. André de Cesaréia também conta algumas notícias de Papías; ou seja, temos os ditos de Papías que sobreviveram. 


Não sobreviveram todos os livros, mas sobreviveu algo de sua história; são muito importantes para a Igreja os testemunhos de Papías, porque alguns dos evangelhos, em si mesmos, eles são anônimos. Hoje sabemos que o evangelho de Mateus foi escrito por Mateus pelo testemunho que deu Papías. Sabemos que o evangelho de Marcos foi escrito por Marcos porque Papías deu testemunho disso, que o ouviu do próprio apóstolo João. O apóstolo João foi o que leu o evangelho de Marcos e disse a seus discípulos que Marcos não tinha mentido em nada do que tinha escrito; isso o escreveu Papías. De maneira que muitas notícias importantes para conhecer os autores dos livros da Bíblia nos vêm através de Papías; embora que não tenha sobrevivido os cinco volumes de Exotéricos ou da exegese dos ditos do Senhor, pelo menos, os fragmentos que sobreviveram foram muito importantes. Por isso quero ler um pouco de Papías.  Diz Irineu, citando a Papías:


"Quando também a criação, renovada e liberta, frutificar profusamente todo tipo de comida, graças ao orvalho do céu e à fertilidade da terra, do modo como recordam os anciãos que viram João, discípulo do Senhor".


Quem está falando aqui? Está falando Irineu. Irineu era da igreja em Esmirna quando a presidia Policarpo, que foi quem recebeu o Apocalipse da mão de João, porque o Senhor lhe disse: Envia-o à igreja de Esmirna e às outras; pois o que estava à frente da igreja em Esmirna era um discípulo de João que foi o que ficou fazendo trabalho apostólico quando este morreu; quem ficou fazendo essa obra que fazia João foi Policarpo; então a mensagem do Senhor por João foi recebida por Policarpo; mas Policarpo tinha um jovem da igreja em Esmirna que era Irineu. Este Irineu é o que escreve estas coisas. Ele diz assim:


" do modo como recordam os anciãos que viram João (entre eles estão Policarpo e Papías), discípulo do Senhor, ouvindo-o da maneira como o Senhor ensinava a respeito desses tempos".


Refere-se aos tempos do reino milenar; então, põe aspas para citar as palavras do Senhor transmitidas por João e transmitidas por Papías e por Policarpo; agora as está transmitindo Irineu, assim:


" Haverá dias em que nascerão vinhas, que terão cada uma dez mil videiras; cada videira terá dez mil ramos; cada ramo terá dez mil cachos, e cada cacho terá dez mil grãos, e cada bago espremido dará vinte e cinco metretas de vinho. 3Quando um dos santos pegar um cacho, o outro gritará: ‘Pega-me, porque eu sou melhor, e por meio de mim bendize no Senhor

Do mesmo modo, um grão de trigo dará dez mil espigas, e cada espiga terá dez mil grãos; cada grão dará dez libras de farinha branca limpa. Também os outros frutos, sementes e ervas produzirão nessa mesma proporção. Todos os animais que se nutrem desses alimentos, que recebem da terra, se tornarão pacíficos e viverão harmoniosamente entre si. Eles se submeterão aos homens sem qualquer relutância.” Isso também atestou por escrito no seu quarto livro, Pápias, homem antigo, discípulo de João e companheiro de Policarpo. De fato, ele escreveu cinco livros. E acrescentou: “Essas coisas merecem fé para os que acreditam. E como diz Judas, o traidor, que não acreditava e perguntou: ‘Então como serão realizadas pelo Senhor tais produções?’ O Senhor respondeu: ‘Os que chegarem a esses tempos o verão ". 


Mas adiante vou ler outras coisas a respeito de Papías. Isto o diz Eusébio conservando fragmentos de Papías:


" São cinco o número dos escritos que levam o nome de Pápias, intitulados: “Explicação de Sentenças do Senhor.” ( É uma tradução do Título) Irineu também menciona esses como os únicos escritos de Pápias, dizendo o seguinte: “Isso também atestou por escrito Pápias, discípulo de João e companheiro de Policarpo, homem antigo, no seu quarto livro, porque ele compôs cinco livros.” Este é o testemunho de Irineu ".


TERGIVERSAÇÕES NOS TEMPOS DE EUSÉBIO DE CESARÉIA 


Vou resaltar umas palavras aqui de Eusébio, porque Eusébio toma umas palavras de Papías e ele dá uma interpretação equivocada a essas palavras, e como resultado dessas palavras equivocadas, outros se equivocaram; porque parece que Eusébio não era milenarista, então houve a partir de quando o cristianismo começou a conquistar o Estado, e Eusébio de Cesaréia era amigo de Constantino, quem começou a entender virtualmente que o milênio era uma coisa alegórica, àquela profecia de Apocalipse, e começaram a não tomar em conta as palavras de Apocalipse de forma literal. Começou, pois, a surgir um sentimento contra os que eles chamaram "milenaristas". João falou no Apocalipse sobre o milênio, de maneira que Papías falava do milênio, Irineu falava do milênio, Melitão de Sardes falava do milênio; aqui aparece também Apolinário de Hierápolis, que falava do milênio, Tertuliano de Cartago falava do milênio, Victorino de Petavio falava do milênio, Lactâncio falava do milênio; todos estes eram os líderes cristãos primitivos que eram milenaristas. Como também Montano, que era um líder dos arredores do ano 150, e era bastante entusiasta, ou seja um pentecostal bem clássico, e que eles enfatizavam as profecias e os dons do Espírito, e às vezes alguns ou algumas foram aos extremos, e como Montano acreditava também no milênio e no Apocalipse, então, lógico, em reação contra os excessos entusiastas de Montano surgiram algumas reações contra o alpinismo; mas como o alpinismo era literalista e se apoiava no Apocalipse, então começaram a recusar aos irmãos que acreditavam no milênio literal e os consideravam os hereges kiliastas, de Kilo, de mil, de milênio. Depois não só recusaram à interpretação milenarista, mas recusaram inclusive o Apocalipse todo, porque o Apocalipse era o livro que dava margem para isso. Começou, pois, a surgir, em uma vertente, um repúdio ao livro do Apocalipse, porque diziam que o Apocalipse era virtualmente o culpado da "heresia" dos mil anos e todas essas coisas. Então em Roma, pelo ano 210, um dos presbíteros de Roma, que se chamava Recife de Roma, ele escreveu contra Montano, e em seus escritos contra Montano e o alpinismo também atacou ao milenarismo e atacou ao Apocalipse; então uma pessoa que tinha aprendido de Irineu, que se chamava Hipólito de Roma, escreveu uma obra contra Recife, refutando de uma maneira tremenda tudo o que era o ataque antiapocalíptico e antimilenarista, sendo ele um homem ortodoxo. A partir da obra que escreveu Hipólito contra Recife de Roma, sendo Hipólito também de Roma, um ancião em Roma, ali, no ocidente, graças à intervenção de Hipólito se respeitou muito o Apocalipse.


Da Ásia Menor se difundiu muito pelo ocidente, e os ataques que se levantaram contra o Apocalipse e contra o milenarismo foram apaziguados pela obra de Hipólito no ocidente; mas como as obras não circulavam tão rápido, por lá no oriente, pela Geórgia e pela Armênia, atrasaram-se muito em aceitar o Apocalipse, e herdaram depois esse cepticismo dos alegoristas. Os alegoristas, que não queriam falar de um milênio literal, não só rechaçaram a interpretação literal, mas também rechaçaram o próprio livro do Apocalipse. Se é muito delicado para o que tira uma parte do livro, quanto mais tirar o livro inteiro. Tirar um pedaço ou lhe adicionar é delicado, quanto mais delicado é tirar o livro inteiro. Foi, pois, Hipólito quem fez a defesa em seu livro contra Recife de Roma no ano 215.


Outro que escreveu e usou o Apocalipse foi Metódio. Já estamos citando algumas das testemunhas antigas que são: Justino Mártir, Papías de Hierápolis. Estou aqui com dificuldade de ler pra vocês todo o material que há; além disso, não quero ler Eusébio sem lhes dar a explicação, porque ele teve umas questões que interpretou mau. Ele era amigo de Constantino e ele era ariano, de maneira que estava em um grupo um pouco delicado. ‘A partir da interpretação de Eusébio sobre umas palavras de Papías, começaram a tirar o valor do Apocalipse e a tirar a autoria do Apocalipse do apóstolo João; e depois tiraram do apóstolo João não só a autoria do Apocalipse mas também das cartas e depois do evangelho.


Outro que fez isso foi outro herege que se chamava Marcião. Marcião inclusive conheceu pessoalmente ao apóstolo João, e o apóstolo João percebeu seu espírito e não o recebeu na comunidade em Éfeso; então Marcião se foi para Roma, e ele dizia que o Deus do Antigo Testamento era um demiurgo, e que o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo era outro Deus, e rechaçava tudo o que era judaico; e como no Apocalipse há muitas coisas que têm raízes no Antigo Testamento, rechaçou o Apocalipse como sendo judaico. Marcião só aceitava uma parte mutilada do evangelho de Lucas e algumas das epístolas de Paulo; isso era todo seu Novo Testamento. Irineu teve que combater a Marcião; Papías teve que combater a Marcião, Tertuliano teve que combater a Marcião, que foi o primeiro grande herege que houve neste tempo. depois de Marcião surgiu um grupo herético que se chamava "os álogos"; ou seja os contrários ao Logos, e também eram contrários ao Apocalipse, e como o Apocalipse circulava muito, eles começaram a fazer circular a mentira de que joão não tinha escrito o Apocalipse mas Cerinto, que era outro herege.


O diabo lutou desde o começo contra o Apocalipse. Eu queria que vocês soubessem isso porque um dia vocês podem também enfrentar essas correntes. Por que? Porque essa linha que foi introduzida por Marcião, herege, e continuaram os álogos, grupo herético, depois foi introduzindo-se pouco a pouco em pessoas que não eram tão heréticas. 


Depois Dionísio de Alexandria pelo ano 256, como ele era um grande escritor do grego, começou a criticar a gramática popular do Apocalipse e começou a duvidar da autoria de João porque via que o evangelho era um pouco mais culto, assim como a primeira epístola de Pedro é mais culta que a segunda, porque na segunda já não tem a ajuda de Silvano, e além que o evangelho de João é bastante posterior em vários anos ao Apocalipse e joão já tinha aprendido melhor o grego; nessas coisas se apoiavam os que colocavam dúvidas. 


Eusébio se apoiou nas dúvidas de Dionísio e as aceitou e em apóio a isso continuou a corrente dos negadores do Apocalipse e os negadores da autoria de João o apóstolo. Logo Cirilo de Jerusalém tomou a mesma linha de Eusébio e o mesmo fizeram as Igrejas da Armênia e Síria até mais ou menos o ano 500. No ano 600 a canonicidade própria do Apocalipse prevaleceu sobre os que a tinham negado, mas no oriente se atrasou muito a aceitação do Apocalipse por esses conflitos que houve. No ocidente se aceitou graças ao trabalho do Hipólito que defendeu o Apocalipse em uma obra contra Recife de Roma.


Outro dado onde se fala do Apocalipse está em Melitão de Sardes; mas fixem-se em que Sardes era outra das Igrejas às quais foram dirigidas o Apocalipse, e justamente um dos líderes que houve em Sardes foi Melitão. Melitão de Sardes escreveu inclusive um comentário ao Apocalipse; ele escreveu uma obra sobre o diabo e o Apocalipse de João; parte dessa obra sobreviveu e foi citada por outros.


Quero, pois, ler pra vocês algumas das coisas já com a introdução das citações que Eusébio faz de Papías; mas lhes havendo feito a explicação. Vocês vão notar que Eusébio, que era uma pessoa culta, ariano e alegorista, que rechaçava a literalidade das coisas, e que andava na corte de Constantino, fala de uma maneira depreciativa de Papías; mas Irineu que o conhecia, fala de uma maneira respeitosa de Papías; e Irineu era anterior como em dois séculos a Eusébio; por isso é bom saber isto. Continua dizendo agora Eusébio citando a Papías:


"Para falar a verdade, Papías mesmo, no prólogo de seus discursos não afirma de modo algum ter sido ouvinte dos sagrados apóstolos (essa é uma mentira de Eusébio; é uma mentira que demonstram outros escritores que se referiram a Papías; mas aqui já se nota que ele está contra Papías, porque ele é amilenarista); nem havê-los pessoalmente visto, senão ensina pelas mesmas expressões de que se vale, que recebeu o referente à fé dos que foram familiares dos mesmos apóstolos, e não terei inconveniente...".


Agora quem fala é Papías. Esta citação Eusébio faz sobre Papías; agora é Papías quem fala. Esta é a citação de Papías que Eusébio depois a mal interpreta; então por isso faço a ênfase para que não se confundam. Agora Papías vai falar; esta citação mal interpretada resultou no que até hoje os modernistas usam e aparece em muitos comentários bíblicos, dicionários bíblicos; aparece inclusive em notas de rodapé de várias versões da Bíblia que são modernistas ou latino-americanas. Como os irmãos podem se deparar com isso, precisam conhecer toda esta historia para não serem enredados. Agora diz Papías:


"E não terei inconveniente em te oferecer ordenadas a par de minhas interpretações, quantas notícias um dia aprendi muito bem e muito bem gravei em minha memória, seguro como estou de sua verdade, porque não me agradava eu como fazem a maior parte, nos que muito falam, nem nos que recordam os mandamentos alheios, senão no que pelo Senhor foram dados a nossa fé e que procedem da própria verdade; e se se dava o caso de vir alguns dos que tinham seguido aos anciões, (desde já chamo a atenção ao fato que Papías chama de "anciões" os apóstolos, porque como também vai falar do ancião João, alguns dizem: olhem que aqui diz ancião João, e não apóstolo João; então supostamente o ancião João era distinto que o apóstolo João; mas desde já lhes chamo a atenção a que na linguagem de Papías ele chama anciões inclusive aos apóstolos; e como o próprio Pedro diz: eu também ancião com eles), quando se dava o caso de vir algum dos que tinham seguido aos anciões, eu tratava de discernir os discursos dos próprios anciões (ou seja que se os que tinham ouvido aos apóstolos diziam algo, então ele procurava ver o que era dos apóstolos, e não dos que os transmitiam); O que havia dito André? E Pedro? O que Tomé ou Tiago ou João ou Mateus ou qualquer outro dos discípulos do Senhor? e o que diz agora... (fala no presente. O que diziam no passado, menciona a estes; e agora no presente, é como quem diz: agora ainda há uns que não morreram e que continuam em pé). O que dizem Aristião e o ancião João, discípulos do Senhor; porque não pensava eu que os livros pudessem me ser de tanto proveito como o que vem da palavra viva e permanente".


Notem que Papías queria saber o que havia dito o Senhor, segundo o que dizia André, o que dizia Felipe, o que dizia João, e ele procurava ouvir a respeito deles; mas também ele ouvia diretamente agora em vida, a João e a Aristião.  Então aqui Papías faz duas menções de João. Primeiro menciona que ele procurava ouvir o que eles haviam dito no passado, segundo os que lhe tinham seguido; então ele lhes indagava, o que foi que disseram André, João, Mateus; mas agora passa ao presente:  "E o que agora dizem Aristião e o ancião João".  Então Papías faz duas menções de João; uma no passado, o que dizia quando ainda estavam vivos André, Tiago, Felipe, João e Mateus; e agora o que no presente, disse Papías, seguia dizendo João, discípulo do Senhor.  devido às duas menções que Papías faz, nesta passagem, de João, Eusébio de Cesaréia interpretou que alguém era João o apóstolo e o outro era outro João; não entendeu que está falando o que falavam no passado e o que agora o próprio João fala no presente; as duas menções de João não são dois Joãos; são o mesmo João; mas o que falava quando estavam em vida os companheiros dele e o que ainda nos tempo de Papías continua falando João com Aristião. Papías era um homem que procurava ter todos esses dados e os copiava e fazia a exegese; por isso como resultado destas palavras de Papías, Eusébio mal interpretou mais adiante, e por isso vou resaltar o comentário de Eusébio; depois vocês podem ler, pois isso vão encontrar por toda parte; assim que estou enfatizando o testemunho de Papías como ouvinte de direto João.


OUTROS FRAGMENTOS DE PAPÍAS


Aqui também há outros fragmentos de Papías que foram citados, alguns por Eusébio, outros por Apolinário; então André de Cesaréia, que é aquela Cesaréia onde estava a biblioteca de Orígenes, dizia o seguinte sobre Papías e Apolinário de Hiérapolis, não de Laodicéia, que foi outro posterior. Apolinário de Hiérapolis foi como um sucessor de Papías. Eles contam alguns dados de Judas Iscariotes que contou Papías; diz:


"Judas não morreu na corda, mas sobreviveu por haver se soltado antes de se enforcar e isto põem de manifesto os Atos dos apóstolos, havendo-se inchado, arrebentou pelo meio e se derramaram suas vísceras".


E logo aqui começa a explicar a morte de Judas, que foi terrível; diz que chegou a inchar-se de tal maneira que já não se podia ver nem os olhos, e se apodreceu e saíram vermes e a carne se derramou na terra, de tal maneira que o lugar onde morreu cheirava tão mal que ninguém podia passar por esse lugar. Coisa terrível! Isso Papías conta aqui sobre Judas. Logo, olhem o que diz aqui este André de Cesaréia, em relação ao Apocalipse. Este testemunho é importante; diz assim:

"Acreditam que é supérfluo alargar o discurso a respeito da divina inspiração do livro (ou seja, o Apocalipse de João), quando testemunham que é digno de fé, os bem-aventurados Gregório o teólogo e Cirilo, e além entre os mais antigos: Papías, Irineu, Metódio e Hipólito".


André de Cesaréia está se referindo ao testemunho dos mais antigos: Papías, Ireneu, Metódio e Hipólito e um poquinho depois deles: Gregório e Cirilo, a favor do Apocalipse escrito pelo apóstolo João. Estas são citações bem antigas.


Para terminar, quero lhes fazer umas citações literais de Ireneu; vou ler algumas passagens; diz: " Eis aqui, por que diz João no Apocalipse, sua voz era como o ruído de muitas águas?". Aqui está citando o Apocalipse como de João; isso é no livro "Contra as Heresias" que escreveu Irineu, que era de Esmirna. Sigo lendo outra passagem aqui: "João diz em Apocalipse, que o incenso são as orações dos Santos"Vemos que está atribuindo o Apocalipse a João. Logo em outra passagem diz: "Como diz João no Apocalipse, abriu-se o templo de Deus". Outra citação de Irineu, diz:


"Também João o discípulo do Senhor no Apocalipse assiste à vinda do reino glorioso e sacerdotal; voltei-me, diz ele, para ver a voz que me falava e quando me voltei, vi sete castiçais de ouro e no meio deles, parecido ao Filho do Homem, vestido de uma larga túnica e com o cinto de ouro à altura do peito; e sua cabeça e seus cabelos eram brancos, como lã branca, como a neve; seus olhos eram como chamas de fogo; seus pés semelhantes a cobre abrasado em fogo; a voz dele era como a de muitas águas; sua mão direita assegurava sete estrelas, de sua boca saía uma espada aguda de dois fios e seu rosto era brilhante como o sol, no máximo de seu fulgor".


Faz uma citação bastante ampla do Apocalipse de João, dizendo: isto diz João, o discípulo do Senhor, no Apocalipse. Essas são várias das citações. Vou ler uma mais do Irineu. Diz:


"Uma revelação mais clara ainda a respeito dos últimos tempos e dos dez reis entre os quais será dividido o império que agora domina foi feita por João, o discípulo do Senhor, no Apocalipse, explicando o que eram os dez chifres vistos por Daniel".


E logo faz a citação. Percebemos como Irineu, que foi um discípulo de Policarpo, que por sua vez foi um discípulo do apóstolo João, está atribuindo diretamente o Apocalipse a João. Justino o faz, Papías o faz, Melitão de Sardes o faz, Irineu o faz, Teófilo de Antioquia também em um livro que escreveu "Contra as heresias do Hermógenes" o faz, Clemente alexandrino o cita em vários livros também no ano 200; Orígenes fez um comentário e citações a João em várias partes.


Em Milão se encontrou, do ano 170 mais ou menos, o que foi chamado de "O Cânon de Muratori". Muratori foi o arqueólogo que encontrou esse cânon em Milão, onde aparecia para essa época tão antiga, um cânon das Escrituras do Novo Testamento e aí estava incluído o Apocalipse do apóstolo João; o cânon que Muratori descobriu e está na biblioteca Ambrosiana de Milão, o menciona. 


Logo perto do ano 190, a igreja de Cartago reconhece o Apocalipse em seu cânon. Tertuliano escreveu abundantemente; dos 22 capítulos do livro de Apocalipse, ele cita 18 capítulos em sua obra, atribuídos ao apóstolo João; ele chegou a ser montanista ao final de sua vida. 


Montano, Metódio, Hipólito que foi o defensor disso no ocidente, a quem devemos muito porque chegou o Apocalipse mais rápido no ocidente, Victorino de Petávio e André de Cesaréia, estas são as principais testemunhas. Não pude ler tudo por causa do tempo, mas queria lhes deixar isto na introdução ao Apocalipse, como João o apóstolo é o autor do Apocalipse, embora essa citação que lemos de Papías, interpretada mal por Eusébio de Cesaréia, fez que se recusassem o Apocalipse em muitas partes e os modernistas liberais continuam fazendo até hoje em grande maneira; mas acredito que é suficiente com o que temos lido para que saibamos que temos um livro do apóstolo João, filho de Zebedeu e de Salomé, primo do Senhor Jesus, recebido do Senhor Jesus em Patmos.


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